quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A Praça

Sento num velho banco de concreto numa praça feia e suja, talvez nem devesse mencionar que fedida também. Os fones nos ouvidos porque sinceramente não consigo viver sem musica. A sensação de estar sendo observada ou questionada me incomoda... As pessoas sempre querem saber o que uma maluca com uma mochila nas costas está fazendo sentada numa praça às oito da manhã. Ou talvez não, talvez fosse somente aquela necessidade de auto-importância que me impele a criar algo como egocentrismo, achando que o mundo gira em torno do meu umbigo.
Deixo um pouco minha timidez infundada de lado quando vejo teias de aranhas balançando ao vento presas somente a uma arvore, uma arvore muito próxima a mim, tão próxima que eu podia sentir sua respiração de arvore, seja isso o que for. É impressionante descobrir um pensamento fugaz que se prende em sua consciência e por um momento você tem toda a certeza do mundo que aquela arvore e que todas as outras arvores do mundo não gostam de você e nem de ninguém da sua espécie. E por um momento, enquanto cachorros pretos passeavam atrás de mim, eu notei que gosto mais de cachorros do que de arvores. Eu sei, isso não parece fazer sentido algum, e não faz mesmo, só pensei no óbvio.
A idéia de viagem no tempo, de tecelagem e destino passa em minha cabeça. Bendita teia de aranha, bendito amigo que me ensina coisas por e-mail. Não importa o que nós pensamos a respeito de tudo, no final das contas às vezes sinto que somos influenciados por algo muito maior e bem mais impessoal do que julgamos, figuras que bailam ordenadamente num turbilhão de caos. E eu luto para não me perder, para não perder o meu objetivo, tentando me lembrar constantemente o que exatamente me trouxe aqui. E sinceramente, foram pequenas escolhas e decisões dentro de uma confusão que criou tudo isso e nesse bailado de ações sem nexo é que talvez algo muito maior se forme.
Às vezes passa em minha mente que eu devo me lembrar de quem eu sou, lembrar das coisas em que acredito, notar tristemente que nem tudo é exatamente do modo como eu queria que fosse e lidar com minhas escolhas anteriores, nas pequenas crenças que eu fiz das pessoas e lidar com a minha frustração ao notar que eu estava tão cega pelo desejo que jamais pude ter uma visão clara sobre tudo. Quando você faz parte de algo, você realmente faz parte de algo. Sou uma célula dentro de um corpo maior e tudo o que eu tenho que fazer é desempenhar a minha função.
De qualquer forma, como levar tão a sério qualquer idéia? Uma hora esse universo vai explodir mesmo, queiramos ou não e enquanto tentamos buscar uma idéia maluca de sermos importantes e agentes essenciais para o pulsar de vida do universo, nos esquecemos que nós mesmos somos pequenos fantoches guiados por uma força muito maior e impessoal. Pequenos pedaços de algo imensurável. Mas, esse foi o caminho que eu escolhi para mim quando eu ouvi o chamado, sem entender de nenhum modo o que era o chamado.
Grandes verdades universais, descobertas fundamentais, mecânicas e desenvolvimentos... Deixe-me falar de mim, já que nada mais no mundo vai se importar em falar sobre mim além de mim mesma e quando eu me for, não terei deixado nenhum passado de glória, embora creio que serei lembrada, de alguma forma e isso seria imortalidade, talvez. E isso porque eu quero fugir de minha auto-importância. Que se dane, eu só quero ser eu mesma e mensurar minhas minúsculas mudanças nesse processo. Não eu não sou tão banal quanto as pessoas podem pensar por aí e nem quero ser o protótipo de uma nova raça, uma nova espécie, mas sou uma guerreira e encontrei algo dentro de mim hoje e isso não faz sentido ainda, estou apenas tentando ser um pouco melhor, um pouco mais nobre, um pouco mais justa. Não com os outros, nem com o mundo, eles sobrevivem por eles mesmos, falo de mim.