quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Lar

O sangue frio da cidade me chama para o lar.
Lar.
É o que eu
desejo.
Voltar para o lar onde eu pertenço.
– Home, Dream Theater.


Pegue um pequeno pedaço do meu mundo, querido e depois me diga o que é que você vê. Porque tenho cruzado essas fronteiras e não importa sobre o que exatamente eu estou dizendo, mas algo tem mudado. Eu estou seguindo adiante nesse mundo estranho e eu sei que muitas vezes não parece, mas eu tenho estado com você o tempo todo. E então eu disse que você estava debilitado, mas no momento exato todos nós nos levantamos.
O vento sopra tão ferozmente que eu sinto medo e talvez isso parece ser irreal para você, como muitas vezes é tão surreal para mim. Então, pergunta-me se eu estou sonhando e eu já não sei mais onde eu estou. Olho mais uma vez para a cidade fria e tento encontrar um bom motivo para me manter sólida, para não me desfazer diante de seus olhos como uma miragem no deserto. Peça-me para calar e já não saberei mais o que é som ou silêncio.
Enquanto caminha por estas ruas sujas, o vento carrega para longe a poeira que seus pés levantam e em meio a tanta gente você escuta alguém chamar o seu nome. Nenhum conhecido, ninguém que você se lembra e talvez comece a se perguntar silenciosamente se está sonhando. Viver é em si um sonho, um sonho que sonhamos enquanto estamos despertos, se é que podemos chamar isso de despertar. Eu falo como se soubesse o que eu estou falando.
Aos poucos nossos pés nos levam para onde devemos ir, esperamos fazer com que estejamos preparados para estar onde exatamente devemos estar. E eu desejo o meu lar, seja ele o que for, uma casa ou seus braços, mas no meu lar é onde eu desejo estar...
De um modo bem estranho sinto que não sou mais a garotinha que era há duas semanas atrás, algo aconteceu, algo muito grandioso aconteceu e aqui estou, tentando entender todas as mensagens que eu leio, tentando me manter sóbria, tentando me manter lúcida. Mas, às vezes esse outro mundo é muito mais forte que eu e ele me puxa como se eu estivesse presa num cabo e eu luto para ficar, para me dar um motivo para não ir pra lá de uma vez. Eu disse que eu desejo um lar? Porque às vezes sinto que não pertenço a nenhum lugar.
E essa saudade maluca de algo que eu não sei bem o que é parece desejar dilacerar meu coração, ou destruir de uma vez todo o meu corpo e eu espero entender o que tudo isso quer dizer, entender os telefonemas malucos que eu recebo que pedem para que eu decifre coisas que eu não sei decifrar e eu esperava ter um pouco mais de sabedoria, um pouco mais de desapego e um pouco mais de sobriedade.
Mas, resta-me sonhar, sonhar para tentar mesclar esses mundos num único sem que eu tivesse que estar, fosse o que fosse, tentando me preparar para isso. Já nem sei mais o que eu devo ou não fazer, o que eu posso ou não fazer e sinceramente, às vezes eu sinto falta de todas as tolices que eu gostava de pensar sobre nós. Porém, sei que essa é a maior tolice que eu posso desejar nesse momento, porque seria mais que tolice desejar a loucura e o empobrecimento de meu espírito em prol de um amor efêmero que não pode me levar adiante.
Tudo bem. Eu ainda quero que pegue um pedaço de meu mundo e me diga o que ouviu dessa vez. Porque certamente a velha lhe dirá que enquanto estiver obcecado por isso, enquanto estiver cego pelo seu desejo, você jamais vai conseguir alcançar aquilo que tanto deseja. E dentro dessa febre, você não pode notar, não pode notar sequer o rosto que você mira no espelho. E meu bem, não existe nada mais pavoroso.

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